domingo, 22 de janeiro de 2012

A parábola da Carroça Vazia


Uma das grandes preocupações de nosso pai, quando éramos pequenos, consistia

em fazer-nos compreender o quanto a cortesia é importante na vida.

Por várias vezes percebi o quanto lhe desagradava o hábito que têm certas pessoas de

interromper a conversa quando alguém está falando. Eu, especialmente, incidia muitas

vezes nesse erro. Embora visivelmente aborrecido, ele, entretanto, nunca ralhou comigo

por causa disso, o que me surpreendia bastante.

Certa manhã, bem cedo, ele me convidou para ir ao bosque a fim de ouvir o cantar dos

pássaros. Concordei, com grande alegria, e lá fomos nós, umedecendo nossos calçados

com o orvalho da relva. Ele se deteve em uma clareira e, depois de um pequeno silêncio,

me perguntou:

- Você está ouvindo alguma coisa além do canto dos pássaros?

Apurei o ouvido alguns segundos e respondi:

- Estou ouvindo o barulho de uma carroça que deve estar descendo pela estrada.

- Isso mesmo... - disse ele - É uma carroça vazia...

De onde estávamos não era possível ver a estrada e eu perguntei admirado:

- Como pode o senhor saber que está vazia?

Meu pai pôs a mão no meu ombro e olhou bem no fundo dos meus olhos, explicando:

- Por causa do barulho que faz. Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz.

Não disse mais nada, porém deu-me muito o que pensar. Tornei-me adulto e, ainda hoje,

quando vejo uma pessoa tagarela e inoportuna, interrompendo intempestivamente a

conversa de todo o mundo, ou quando eu mesmo, por distração, vejo-me prestes

a fazer o mesmo, imediatamente tenho a impressão de estar ouvindo a voz de meu pai

soando na clareira do bosque e me ensinando:

- Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz.

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