sexta-feira, 10 de junho de 2011

Você não é a sua mente

O maior obstáculo para a iluminação

Iluminação – o que é isso?
Por mais de trinta anos um mendigo ficou sentado no mesmo lugar, debaixo de uma marquise. Até que
um dia, uma conversa com um estranho mudou sua vida:
– Tem um trocadinho aí pra mim, moço? – murmurou, estendendo mecanicamente seu velho boné.
– Não, não tenho – disse o estranho. – O que tem nesse baú debaixo de você?
– Nada, isso aqui é só uma caixa velha. Já nem sei há quanto tempo sento em cima dela.
– Nunca olhou o que tem dentro? – perguntou o estranho.
– Não – respondeu. – Para quê? Não tem nada aqui, não!
– Dá uma olhada dentro – insistiu o estranho, antes de ir embora.
– O mendigo resolveu abrir a caixa. Teve que fazer força para levantar a tampa e mal conseguiu acreditar
ao ver que o velho caixote estava cheio de ouro.
Eu sou o estranho sem nada para dar, que está lhe dizendo para olhar para dentro. Não de uma caixa, mas
sim de você mesmo. Imagino que você esteja pensando indignado: “Mas eu não sou, um mendigo!”
Infelizmente, todos que ainda não encontraram a verdadeira riqueza – a radiante alegria do Ser e uma paz:
inabalável – são mendigos, mesmo que possuam bens e riqueza material. Buscam, do lado de fora, migalhas de
prazer, aprovação, segurança ou amor, embora tenham um tesouro guardado dentro de si, que não só contém
tudo isso, como é infinitamente maior do que qualquer coisa oferecida pelo mundo.
A palavra iluminação transmite a idéia de uma conquista sobre-humana – e isso agrada ao ego –, mas é
simplesmente o estado natural de sentir-se em unidade com o Ser. É um estado de conexão com algo
imensurável e indestrutível. Pode parecer um paradoxo, mas esse “algo” é essencialmente você e, ao mesmo
tempo, é muito maior do que você. A iluminação consiste em encontrar a verdadeira natureza por trás do nome e
da forma. A incapacidade de sentir essa conexão dá origem a uma ilusão de separação, tanto de você mesmo
quanto do mundo ao redor. Quando você se percebe, consciente ou inconscientemente, como um fragmento
isolado, o medo e os conflitos internos e externos tomam conta da sua vida.
Adoro a definição simples de Buda para a iluminação: “É o fim do sofrimento”. Não há nada de sobrehumano
nisso, não é mesmo? Claro que não é uma definição completa. Ela apenas nos diz o que a iluminação
não é: não é sofrimento. Mas o que resta quando não há mais sofrimento? Buda silencia a respeito, e esse
silêncio implica que teremos de encontrar a resposta por nós mesmos. Como ele emprega uma definição
negativa, a mente não consegue entendê-la como uma crença, ou como uma conquista sobre-humana, um
objetivo difícil de alcançar. Apesar disso, a maioria dos budistas ainda acredita que a iluminação é algo apenas
para Buda e não para eles próprios, pelo menos, não nesta vida.
Você usou a palavra Ser, Pode explicar o que quer dizer com isso?
Ser é a eterna e sempre presente Vida Única, que existe além das inúmeras formas de vida sujeitas ao
nascimento e à morte. Entretanto, o Ser não está apenas além, mas também dentro de todas as formas, como a
mais profunda, invisível e indestrutível essência interior. Isso significa que ele está ao seu alcance agora, sob a
forma de um eu interior mais profundo, que é a verdadeira natureza dentro de você. Mas não procure apreendê-
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lo com a mente. Não tente entendê-lo. Só é possível conhecê-lo quando a mente está serena. Se estiver alerta,
com toda a sua atenção voltada para o Agora, você até poderá sentir o Ser, mas jamais conseguirá compreendêlo
mentalmente. Recuperar a consciência do Ser e submeter-se a esse estado de “percepção dos sentidos” é o
que se chama iluminação.

Eckart Tole

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